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Exportações de Açaí do Pará Crescem Quase 200% em Seis Anos, mas Dados Oficiais Não Contam a História Completa

  • Foto do escritor: Agência Fluxo
    Agência Fluxo
  • 19 de set.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de set.

Por Bianca Farias, Fabrício Ferreira e Vitória Soares.


BELÉM, PA – As exportações de açaí e produtos derivados a partir do Pará explodiram nos últimos anos, saltando de US$ 12,1 milhões em 2019 para um pico de US$ 43,1 milhões em 2024, um crescimento de quase 200%. Os dados, baseados em uma análise detalhada dos registros de comércio exterior do governo federal, revelam um mercado em franca expansão e cada vez mais estratégico para a economia paraense. No entanto, o estudo também expõe uma barreira nos dados públicos que impede saber com precisão de qual município, como Belém, o açaí exportado realmente se origina.


A pesquisa, intitulada "Economia do Açaí em Belém: Mapeamento, Estrutura e o Desafio dos Dados", realizada pelos pesquisadores Bianca Farias, Fabrício Ferreira e Vitória Soares, mergulhou nos microdados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para traçar o perfil do mercado internacional do fruto paraense.


Os resultados mostram que o crescimento do açaí supera, e muito, o de outros produtos vegetais da região. Em todo o período analisado, a cesta de produtos de açaí correspondeu a mais de 90% do valor total de um grupo de dez dos principais produtos de origem vegetal exportados pelo estado.


Estados Unidos Lideram, mas Novos Mercados Aceleram


O apetite global pelo "ouro roxo" da Amazônia tem um líder claro: os Estados Unidos. O país se consolidou como o principal importador, respondendo pela maior parte do volume financeiro. Em 2022, por exemplo, o mercado norte-americano comprou mais de 85% de todo o açaí exportado pelo Pará.


Contudo, a análise da taxa de crescimento revela a verdadeira dinâmica do mercado. Enquanto os EUA representam um mercado maduro, com um crescimento médio robusto de 11,77% ao ano, a verdadeira explosão acontece em outros continentes. Os Países Baixos lideram a corrida, com um crescimento anual composto de impressionantes 62,97% entre 2019 e 2025. Japão (42,36%) e Singapura (35,15%) também demonstram uma expansão acelerada, sinalizando a consolidação de novos e importantes canais de distribuição na Europa e na Ásia.


O "Ponto Cego" dos Dados: De Onde Sai o Açaí?


Apesar da riqueza dos números em nível estadual, o estudo dos pesquisadores encontrou uma barreira intransponível nos dados públicos: é impossível rastrear a origem municipal exata das exportações.


"Quando tentamos filtrar os dados para ver o quanto Belém exporta de açaí, a plataforma do governo nos força a usar uma categoria genérica de 'frutas', misturando açaí com dezenas de outros produtos", explica Fabrício Ferreira, um dos autores. "Por outro lado, se usamos o código específico do açaí, perdemos a informação do município. É um beco sem saída."


Após uma consulta formal ao MDIC, a equipe confirmou que essa limitação é intencional. Para proteger o sigilo fiscal das empresas exportadoras, os dados em nível de cidade são deliberadamente agregados, tornando impossível para o público e para pesquisadores saberem quanto cada município contribui para os números da exportação.


"Isso cria um ponto cego crucial", afirmam os autores. "Sabemos que o Pará é o líder, mas não conseguimos medir oficialmente o papel de Belém, que é o grande centro de processamento. Sem dados precisos, o planejamento de políticas públicas e de investimentos para fortalecer essa cadeia produtiva fica prejudicado."


O estudo conclui que, embora os números macroeconômicos revelam uma história de sucesso, é fundamental aprimorar a coleta e a disponibilização de dados para que se possa entender e apoiar a complexa rede de produtores, atravessadores e batedores que movem a economia do açaí desde as comunidades ribeirinhas até o mercado global.



 
 
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